sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Entrevista com Michelle Ramos (Zine Brasil - PE)


Michelle Ramos é pernambucana e uma grande entusiasta dos quadrinhos nacionais, independentes, zines, e a arte em si. Atuante no blog Zine Brasil, e no canal de youtube de mesmo nome, Michelle divulga o trabalho de quadrinistas independentes e amadores do país inteiro.


Pra quem não conhece seu trabalho, o que você faz?
                  
Eu sou roteirista, escrevo histórias em quadrinhos e edito um blog, o Zine Brasil, especializado na divulgação do Quadrinho nacional, seus heróis (personagens) e universo independente, com artigos,  notícias,  resenhas, comentando o que rola na HQ brasileira, tanto em texto como em vídeos.
O objetivo é valorizar a arte brasileira, e incentivar a produção e compra desses materiais.
Assim como incentivar a valorização do artista e escritor brasileiro.                    


Como você enxerga a importância do artista independente?
                
Ele que apresenta as diferentes criações que existem no Brasil, é dentro do universo independente que se pode sentir a criação autoral. Onde se foge do mais do mesmo, é onde o autor libera sua criatividade sem as amarras solicitadas por regras de editoras ou pelo que faz sucesso no "momento". O artista independente aproxima o leitor da vida autoral e por meio deles e de seus projetos muitos outros se incentivam a conhecer a produção nacional e inclusive pensar em ser também um escritor ou quadrinista, pois o autor independente é relativamente mais próximo do leitor que os grandes nomes no mercado na área. Estreitando ainda mais os laços entre autor e admirador. Sem falar que incentivam o pensar mais livre como os fanzines por exemplo. Que dão voz a toda e qualquer pessoa que o usar como meio de difundir suas ideias.                       


E o que falta para o artista independente ser valorizado?
        
Um público que valorize o que é produzido em seu país. O Brasil tem pessoas e pessoas, muitas tem essa visão da qualidade e da importância daquilo que é produzido em casa, mas no dia a dia, no geral, muitos ainda não acreditam nisso. O que falta acima de tudo é mais e mais divulgação aberta em todas as mídias.  As grandes mídias que só o fazem quando o artista já tem nome ou passam a ter no mercado.  Programas de TV, quadros específicos que valorizem a cultura da terra, a arte e a cultura. Para que desde a infância nos seja mostrado como nosso país é rico e talentoso. Coisas como essa tem o poder de fazer o brasileiro olhar pra seu próprio país,  para seus artistas e sentir orgulho do que é produzido aqui também. Nossa luta é essa.


Qual a importância do Zine Brasil na valorização do artista independente?
                     
Rapaz, acho que aí cabe mais aos artistas responder, acredito que os que conhecem responderiam isso melhor que eu, especialmente aqueles que de alguma forma foram beneficiados com a divulgação de seu trabalho. Recebo muitos feedbacks positivos, muitos artistas fazem questão de expor como foi positivo a divulgação feita no ZB. Pessoalmente como artista, e roteirista que sou, eu gostaria muito de ter um lugar focado na divulgação do que é produzido aqui. Foi meu pensando quando resolvi criar o Zine Brasil. ☺




Antes do Zine Brasil, o que lhe levou a se interessar pela produção autoral independente?

O meu esposo, que com alguns amigos da cidade, e seus grupos de fanzines, eles lutavam justamente por isso, para produzir, e depois divulgar as produções, era cada um por si, percebi essa dificuldade, sair num site de nome era uma vitoria imensa. Em 2005 quando comecei a divulgar o meu começou a ser noticiado e eu recebia parabéns, era engraçado, eu recebia parabéns por sair num site de HQ, mas ai notei que era justamente porque o nacional não tinha espaço praticamente nenhum. Fui e fiz o meu, onde passei a falar não apenas do que eu queria escrever, mas da produção dos amigos e demais artistas dos quais eu tivesse acesso ou conhecimento, dai foi ampliando, e o Zine Brasil esta ai até hoje.                  

    
 E como você vê o papel dos outros sites e blogs para essa divulgação?                      

Com a mesma responsabilidade, hoje muita coisa mudou, a HQ nacional é pauta na maioria dos sites, não é mais "novidade" falar de HQ nacional, a novidade é ver ela ganhando cada vez mais destaque como felizmente podemos ver acontecendo, mas ainda existe um caminho longo, os outros sites estão fazendo seu papel, estão noticiando, estão falando do que atualmente é mais buscado que antes, e como artista fico muito feliz com isso, pois na hora de divulgar meu próprio material sei pra onde enviar o meu também rsrsrs. Como incentivadora da arte me sinto feliz em saber que faço parte do grupo que iniciou essa busca, essa luta por colocar os artistas nacionais ali em evidencia de alguma forma. Mostrando aos sites e demais blogs que deve sempre existir um espaço voltado ao que é nosso e de nossos artistas dos quadrinhos, mesmo que o site não fale apenas de HQ nacional, o que pra mim é normal, que ele fale de tudo, essa opção por exclusividade ao brasileiro é uma opção minha com o Zine Brasil, apenas isso. Em meu blog pessoal, eu já falo de tudo, justamente porque leio de tudo, é uma questão sempre de escolhas para cada projeto. Cada autor de blog nada mais justo que faça suas próprias escolhas.                  


E como você acha que isso pode melhorar no futuro?
                                           
Quando os artistas estiverem mais e mais focados em produzir com qualidade, lançando suas obras sozinhos ou por meio independente, da mesma forma quando as editoras estiverem mais focadas em uma boa historia, independente do nome do artistas, focadas em criar um publico, em divulgar seu artista, com coragem de investir também no novo, a cada dia acredito que estamos caminhando para isso.


Que dica você daria para o artista independente iniciante?
                     
Primeiro, buscar fazer seu trabalho da melhor forma que puder, respeitando suas próprias limitações e buscando sempre se aprimorar, depois já começar a fazer uso das redes sociais, interagir, se socializar com outros artistas da área e mostrar o que esta produzindo, quando achar que está pronto pra isso claro, mas não se isolar, ou deixar pra usar as redes sociais, ou procurar divulgadores, ou procurar as pessoas apenas quando desejar se divulgar, mas se manter próximo, ser antes de tudo um colega (no minimo) de trabalho, saber conversar, isso te deixará num ambiente propício a ter um ótimo círculo na hora que você for produzir e divulgar seu material. Estar entre pessoas que gostam de fazer o mesmo que gostamos nos ajuda a crescer, e consequentemente nos coloca numa posição de parceria com aqueles com quem mantemos contato. É um bom começo, para qualquer artista independente.


Dica massa. Mas e aí, algo planejado pro futuro do Zine Brasil?

Sim, alguns eventos, lançamentos, são coisas que estão na pauta, espero poder realizar boa parte deles logo. Existem muitas coisas na minha lista de metas, agora é focar em alcançar os resultados. rsrsrrss


Você vê alguma ligação entre música e quadrinho? Como o quadrinho pode se interligar com outras mídias?

Eu acredito que a ligação entre quadrinho e musica é muito intima, na forma que a escrita acontece e quando a própria musica é escrita as duas são criadas visando nos fazer chegar a um clímax arrebatador. É cadenciado e pensando em nos fazer ver uma história.  Tanto o roteiro para quadrinho quanto a música tem essa capacidade de nos guiar de forma a ver imagens, cenas e por fim uma história.  A relação do quadrinho e outras mídias para mim é mais que desejado e esperado. Como instrumento visual é excelente para ser facilmente entendido. Um auxílio para o estudo, educação e demais opções visuais de ensino.





Como anda a produção de quadrinhos no Recife?

Crescendo. Os artistas que já trabalhavam com HQ estão voltando a produzir mais animados com o atual cenário e tenho conhecido novos artistas que estão em busca de lançar suas produções. HQs de heróis, de humor, tem para todos os gostos. Sentimos falta de eventos de grande porte, que se mantenham firme e que se abram a divulgar a produção local também. A maioria dos eventos visa o mundo nerd. Apesar de gostar muito desses eventos, esse lado ainda é uma falta que sinto. Acredito que com mais união de todos os artistas vamos conseguir melhorar o cenário pensando mais nesse sentido.


Creio que os eventos atuais de cultura pop tem buscado trazer o que mais atrai público. Por isso não tenho mais vontade de ir a eventos. Como você o público atual de quadrinhos independentes em relação a isso?

O quadrinista independente que esta produzindo busca espaços.  Se o evento abrir espaço pra vendas da publicação independente já é um ganho. Mas no geral seria interessante ter uma divulgação maior da produção e de quem é o artista. Lógico que eu entendo que cada evento busca público rápido.  Então ele vende o que o povo já conhece e vai atrás.  Mas acredito que é possível dar as duas coisas. Basta organizar com calma que vamos chegar lá. O público ainda esta limitado ao que ganha destaque pela mídia. Por isso acredito sempre que é necessário mostrar ao público também o que ele não conhece para assim desejar saber mais. É o que faço com o Zine Brasil apresento o que provavelmente muitos não conhecem para que assim passem a conhecer. Desejar adquirir e assim seguir o trabalho do artista. É um trabalho que leva tempo mas é necessário.


E muito nobre. Que outros projetos você indica, que tem o mesmo objetivo que o seu?

Sites focados apenas a HQ nacional e nada mais é complicado de ver, mas os artistas em si tem esse desejo de crescimento da arte nacional e os inteligentes crescem juntos em união, não em disputa. Em termos de projeto que eu me identifique de alguma forma, indico o site HQ Quadrinhos do Lancelott Martins. Ele se dedica a catalogação de heróis brasileiros. É um trabalho que valoriza a criação de personagens nacionais do gênero, assim como também apoia o autor nacional, de heróis.


Em relação a gênero, você acha que HQs hoje focam mais em super-heróis, ou isso já passou? 

Acho que os super heróis estão em evidência.  Mas não vejo como se as HQs focassem só nisso não.  As HQs falam de tudo e todos os gêneros possíveis. Mas chegamos ao momento que os heróis ganharam destaque. Eles tem essa coisa de refletir nossas expectativas nas pessoas, alguém que queremos ou não ser, alguém que poderíamos ter sido. Alguém superior que vai nos salvar e mostrar o que é certo. Heróis tem essa coisa que nos fascina.  Por isso acredito que se destacaram tanto no cinema por exemplo. Mas vejo eles como uma porta que se abriu para todos os demais gêneros.  Quem olhava para as HQs antes e achava que era só coisa de criança hoje pensa de outra forma. E todos os demais gêneros serão visitados pelos grandes gênios dos cinemas. Diretores. Roteiristas.  Pois o quadrinho mostrou que tem muitas histórias para contar. Hoje os olhos estão sendo postos em nós que os produzimos. É um momento muito bom para os escritores, roteiristas e storytellers de modo geral.


Como você vê o futuro dos quadrinhos?

Vejo uma mídia mais respeitada ainda do que conseguiu ser hoje. Geradora de emprego e forte. Onde artistas locais crescem a cada dia. E espero que o Brasil esteja no topo ou próximo disso, crescendo grandemente, lançando diversos autores e obras de destaque, inclusive produzindo essas obras para outras mídias como o cinema, isso quem sabe de forma regular, é como espero que estejamos no futuro.


Mas afinal, para quê ler e fazer quadrinhos?

Aí depende de cada autor e de cada leitor. Quando leio tenho acesso a infinitos mundos, aventuras, personagens que de alguma forma me permitem participar dessas aventuras junto com eles e quando escrevo posso colocar pra fora, dividir com outras pessoas os mundos e diferentes personagens que também habitam em mim, em meu imaginário. É uma experiência deliciosa que só quem ama histórias entende. E só passa a sentir quem se desafia a viver essa jornada. 😉


E onde se pode pegar umas dicas legais de quadrinhos independentes bacanas?

Tem um cantinho especial. Ele se chama carinhosamente Canal ZB, que é o canal do Zine Brasil no YouTube. Claro que tudo que sai lá sai no site oficial, mas no canal temos destacado em vídeo as produções nacionais, sejam elas de autores conhecidos ou não estamos comentando o que recebemos por lá. E tem sido super positivo para os autores e claro para mim que estou tendo a oportunidade de comentar o que tenho lido.
Se você que esta lendo essa matéria ainda não conhece, faço o convite para conhecer nossos endereços virtuais e claro se inscrever no canal para acompanhar essas novidades. Vai ser um prazer conversar sobre HQB com você.


4 comentários:

  1. Michelle, a grande mestra do quadrinho nacional! hahaha :D
    Gostei bastante da entrevista, muito bom mesmo!

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  2. Pra ficar mais completa a Entrevista merecia um destaque das obras que a Michele produziu como escritora de HQ, pois o texto está super convidativo e nos despertar essa curiosidade

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    1. Ela tem uma personagem chamada Nilla Cheng, que é uma ninja atuante em Pernambuco:https://www.facebook.com/NillaCheng/

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