sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Entrevista com Dani Carmesim (PE)


E em nossa primeira entrevista de 2017, conversei com a Dani Carmesim, uma artista recifense que vem se destacando a cada paço no cenário musical independente.


Para que aqueles cujo não lhe conhecem possam corrigir esse erro, quem é a Dani Carmesim, e o que você faz?

"Trabalhando de forma independente, autoral e até autobiográfica, a cantora e compositora pernambucana Dani Carmesim, traz em seu projeto solo a realidade do seu dia a dia à tona, além de contar com inúmeras referências rítmicas em seu trabalho. O som da cantora é uma boa pedida pra quem busca um show com composições sinceras e que, sem grandes artimanhas, vai direto à alma, ou seja, é um verdadeiro tapa de realidade, tanto nas letras quanto nas melodias, mas ao mesmo tempo é de uma doçura e leveza que não pode ser terrestre, o que é essencial à música."


Como surgiu o projeto?

Eu iniciei minha jornada na musica em 2004 quando fiz a minha primeira banda chamada "Efeito Carmesim", ficamos uns 2 anos juntos, depois a banda acabou. Fiquei fazendo backs em bandas, voz e violão, até que em 2011 resolvi assumir o meu trabalho solo e estamos ai há quase 6 anos na estrada. Lancei meu projeto solo junto com o primeiro EP, Devaneios. Foi um EP meio que gravado as pressas mesmo pra eu poder me lançar e participar de alguns shows e festivais. Tudo bem independente e feito na base do faça você mesmo. Até hoje é bem assim ainda


Como foi no começo quanto a dificuldades e a entrada na cena musical?

Um dos meus receios em assumir uma carreira musical era justamente saber que toda a trajetória é difícil, mas o começo é a parte mais trabalhosa porque é quando você vai colocar sua "cara" de frente, é o primeiro contato que as pessoas vão ter com seu trabalho, enfim, é muito complicado porque você não sabe mesmo oque vai acontecer. Até porque, no meu caso, os recursos eram mínimos. Gravei meu EP numa home studio, sem grandes mistérios, feito de forma simples, independente, com recursos próprios e além disso tudo, trabalhar muito pra que as pessoas ao menos escutem, pra que dessem o mínimo de credibilidade. É uma conquista diária, trabalho de formiguinha mesmo. E nesse começo tudo vale. A divulgação entre amigos, com os amigos dos amigos... É meter a cara nos shows, conversa e com as pessoas, entregar CD na mão das pessoas, divulgar na internet. Isso é muito importante. Pra você ver, eu já estou a quase 6 anos na batalha e até hoje tem lugares que não consegui tocar ainda. Não consegui espaço nos grandes jornais, na grande mídia. E o trabalho continua, agora com um repertório maior. 3 trabalhos lançados. Mas é como se ainda estivesse naquele inicio. Ainda existe muita resistência. Não sei se pelo fato de ser uma mulher cantando, tentando fazer um rock do meu jeito, com minhas características, ou pelo próprio publico de Recife que é muito complicado que não da muito valor pras coisas feitas aqui. Principalmente pra um trabalho autoral. O próprio governo que não estimula a cimentação da cultura colocando outras bandas em evidência sem ser "aquelas" que já conhecemos. É muito complexo mas eu sabia no que eu estava entrando e eu luto pra que algumas dessas coisas mude.


Você já sofreu restrições especificamente por ser mulher?

Com certeza... Situações tipo: oxe, é banda de mulher! Ou ainda: como é rock se é uma mulher cantando?! A gente acha que não existe essas coisas mas algumas pessoas acham que rock é coisa de homem, ou que uma voz mais suave não combina com o tipo de som... É doidera mas é real. Ainda bem que foram poucas situações. Bem, eu acho, não tenho certeza. 
Quem sabe por trás não estão conspirando contra mim.
To brincando.
Mas é Porque realmente eu não tenho como saber a opinião de todos. Não tenho como saber se algum show que eu de repente não fui chamada foi por esse motivo.
Até porque essas coisas são feitas de forma veladas, geralmente só sabemos depois, nos bastidores. Velada.




Mas como tem sido a recepção no geral do seu trabalho?

Por incrível que pareça a recepção é melhor de fora do que de dentro. Eu até fui surpreendida ano passado que meu CD, Das Tripas Coração, saiu na lista dos melhores CDs pela revista internacional Beehype, coisa que aqui em Recife parece que as pessoas não deram a mínima, enfim... Mas existe lógico uma aceitação, ainda tímida, mas existe. Vez ou outra sou surpreendida por pessoas vindo falar comigo pra dizer que gosta do meu trabalho, dando força pra continuar. Mas é assim mesmo, cada coisinha no seu tempo. 
Mas a troca com o público vem acontecendo e é isso que importa. 
Eu nunca esperei virar pop star da noite pro dia.


Como você vê a cena atualmente em Recife?

Eu vejo uma cena sedenta por parte das bandas, são muitas bandas pra poucos espaços abertos e espaços que incentivem um trabalho independente e autoral menos ainda. E por causa disso eu vejo que muita coisa parte dessas bandas, então a gente se junta, fazemos festivais, dividimos custos. Mas infelizmente ainda esta muito longe do ideal, até porque a maioria dos eventos são gratuitos pois o publico não quer pagar pra ver bandas autorais. E isso vira uma bola de neve sem fim. A banda precisa se manter e de alguma forma e pra isso é necessário dinheiro. Pra gravar, pra ensaiar, pra comprar instrumento, pra confeccionar material pra venda. E aqui em Recife essa via é praticamente de mão única. É muito tímido a presença do público pagante, e as pessoas não conseguem entender a importância de se pagar pra ver um show. Aqui também existem muitas panelinhas ainda. Até uma certa resistência entre as bandas. E isso não é saudável e não é um bom exemplo pro próprio público. As bandas tem que assistir o show de outras também, pagar ingresso também, entende?


O que você acha que falta para as bandas se ajudarem, e também o público passar a valorizar o artista independente?

Acho que existem algumas coisas básicas que deveríamos fazer tanto como músico quanto como público, e o conjunto dessas coisas seriam um pontapé inicial para algumas mudanças. Como músico acho que poderíamos ter menos egos envolvidos, menos preconceito em relação ao estilo musical da banda, mas frequência no show de outros músicos, por que não até divulgar o trabalho do outro?! Fazermos mais parceiras. Listinha bem básica. 
Quanto a publico acho importante você saber oque tá acontecendo na sua cidade, valorizar mais as coisas daqui, saber e ter consciência que ao pagar a entrada do show de uma banda autoral ele está contribuindo para que o trabalho da banda continue, ter consciência de que musico é trabalhador como outro qualquer. Que a gente rala e muito. E aquela visão de que musico é sexo, drogas e rock n roll tem que morrer. Deixa isso pros Rolling Stones que eles podem.
Enfim... são coisinhas simples e básicas mas que não estão rolando. Eu sei que inserir de coisas dificultam ainda mais essa corrente. Tipo violência atual, preço da passagem, comida e bebida tá caro. Eu sei que Ta difícil até se divertir. 
São tantas coisas que se eu soubesse de tudo eu tinha transformado a cena sozinha.





Além da música, você meche com algum outro tipo de arte?

Eu tive que aprender a fazer algumas coisas com vídeo e fotografia, edição de imagem, tive que aprender processos de gravação, tudo relacionado ao meu trabalho musical. É muito complicado ficar esperando que alguém faça esse tipo de trabalho na brodagem, a grana é curta pra bancar esse trabalho com profissionais, então, é aquele velho lema do faça você mesmo.


O que você ainda não fez que gostaria de fazer, e quais seus planos para o futuro?

Eu queria muito poder gravar um novo CD de uma forma mais "profissional", num estúdio de primeira, distribuir o CD nacionalmente. Também queria fazer turnê fora de Recife, expandir os horizontes da minha música, fazer parcerias com artistas que admiro. E o plano é esse. Fazer clipe também, investir mais no audiovisual.


Que dica você daria pra quem tá começando?

Eita, bichinhos.
To brincando, ta.
Eu incentivo muito, gosto muito de saber que embora tenha tantos contras, as bandas continuam aparecendo e fazendo trabalhos maravilhosos. Mas quem entra nesse mundo da cultura em geral tem que estar cientes de que é difícil. Muitas vezes você vai ter que se virar sozinho se quiser conseguir as coisas ou fazer as coisas que você quer.
Também tem que se apegar com os amigos e conhecidos pra desenrolar sua história. E saber que as mínimas coisas fazem a diferença, e que a meta é não desistir, fazer o seu trabalho de uma forma digna, com amor, verdadeiro. Respeitando o trabalho dos outros também. E aos poucos as coisas vão acontecendo.
Infelizmente a gente quer que as coisas boas aconteçam logo. Queremos colher rápido os frutos. Porém cada fruto tem seu tempo de amadurecer para ser colhido. 
É assim com tudo na vida. 
Prefiro ir devagar e dando um passo de cada vez do que pular o processo e me perder no caminho. 
E é isso. 
Trabalhar sempre.


Quais outras bandas e projetos você indica?

Eita, tem um mói viu. 
Tenho até medo de esquecer algum e alguém ficar com raiva. Mas atualmente temos muitas bandas primas em Recife que merecem estar em evidência.
Tipo Diablo Angel, Autores do Regresso, Manuca Bandini, Projeto Ohm, Chão Céu, Serrapilheira, Verdes & Valterianos, Projeto Armazém, Ela e o Bando, Frank. Deixa eu dizer mais. Esquema Noise, Sexto Sereno, Arca de Pandora, Iluminacidos, Gente, são tantos...
E só to dizendo as bandas que a grande mídia renega. Salvador Santo, que fiz uma parceria recentemente, Orquestra Imaginária. É banda demais. Tudo de primeira qualidade. Pra todos os gostos, tem mais um monte. Pode por aí, todos os sons autorais e independentes de Recife. 
Saga HC também, muito massa.


Por último, mas não menos importante, 4x1. Se pudesse dar um spoiler do futuro à você do passado, o que seria? Se o mundo acabace amanhã, como seria sua ultima música? Qual sua mensagem final para a humanidade? E qual seu sabor favorito de cremosinho?

Uma dica do futuro para o meu eu do passado seria pra não ter tido tanto receio de assumir o trabalho autoral, diria que não perdesse tanto tempo reprimindo o que não dava para reprimir, porque a música sempre fez parte de mim e essa dica dou a todos. Não se reprima! 
Se o mundo acabasse amanhã minha ultima musica seria um rock n roll bem rasgado. 
Minha mensagem para a humanidade é, se quiserem fazer oque amam façam Das Tripas Coração por ela. 
E o sabor do cremosinho é o de açaí. Ou amendoim.




Nenhum comentário:

Postar um comentário