Quem acompanha o cenário underground do Recife, conhece o evento Rock na Calçada. O RNC acontece algumas vezes durante o ano, nas ruas do Recife Antigo, trazendo sempre bandas independentes e servindo como porta de entrada para novas bandas que não tem muito espaço.
Como você começou a se interessar por música, e como chegou a fazer o que faz hoje?
Eu comecei a me interessar por música desde a infância através do meu avô, que sempre mostrava música aos netos, e sempre mostrava as referências dele. E isso foi crescendo de forma que eu posso dizer que sou influenciado por muitos gêneros, na verdade. O Rock na Calçada surgiu por observar o que vinha acontecendo com a música e a cena em Recife. Eu tomei a iniciativa em 2013 junto com um grupo de amigos, onde a gente fez uma articulação para apresentar um projeto nosso, que era o Forasteiros Imaginários. Na verdade foi um ensaio aberto que aconteceu na Rua da Moeda, na ocasião teve a participação da Madonna dos Cachorros, ela fez uma jam sessions com a gente. E a partir desse processo, dia 13 de setembro de 2013, a gente foi fazendo essa análise, esse estudo de campo, e foi em junho de 2015 que a gente venho com tudo na primeira edição do Rock na Calçada, edição experimental da qual participou a Doce Babylon e o Graxa.
Nesse começo houveram muitas dificuldades, ou foi mais de boa? E como foi a recepção do público e dos artistas?
No começo de toda e qualquer jornada, certamente a gente encontra dificuldades. No RCN a gente encontrou por parte do público. Por parte dos artistas fomos muito bem recebidos, mas por se tratar de um projeto dentro de um marco cultural, que é a Rua da Moeda, a gente sofreu uma pressão muito grande por parte de alguns comerciantes e rolou até ameaça de morte. Mas a insistência do projeto fez com que ele saísse da Rua da Moeda, fosse pra Mariz e Barros, e de lá para a rua Tomazina.
Apesar de ser um evento que já está consolidado aí no meio, ainda encontra suas dificuldades por estar naquela linha do ativismo cultural. Não recebemos nenhum fomento para fazer com que o projeto tenha essa base. Temos algumas parcerias que acreditam no nossa ideia, mas apoio mesmo, de órgãos governamentais, não temos, e até mesmo do público recifense que não tem esse habito de contribuir com o artista. O público de maneira geral desconhece muito a cena, por que não toca na rádio, não tá na televisão, não tá na mídia pop, e aí as pessoas não estão habituadas a fomentar e a consumir esse tipo de coisa. E não é que a gente espere que as pessoas retribuam. Esse trabalho deve ser galgado ao longo do tempo, de fato do discurso e da guerrilha de fazer o projeto. Não só esse, como muitos outros.
E você acha que isso desmotiva o artista a produzir seus conteúdos?
É um fato contribuinte dentro desse contexto. Se você analisar, de fato é algo que faz com quê o artista se desmotive. Quando não se tem mercado, não se tem público, existe a arte, mas aí ela vai ficar como? Mendigando, saca? E aí realmente é algo que contribui com que muita banda, que poderia estar hoje dentro do circuito, não esteja mostrando seu trabalho.
Agora o mais interessante disso tudo é que existe um mercado dentro do contexto geral, só que Recife é muito diferente de São Paulo, do Rio de Janeiro... Eu não sei o que acontece com essa cidade, é que as pessoas acabam não se ajudando. Existe muito grupo, fulaninho daqui, cicraninho dali... E às vezes as pessoas acabam esquecendo que nos moramos numa terra culturalmente e historicamente muito bonita e importante pra história do Brasil... E é meio complicado falar sobre esse assunto.
Quando digo que as pessoas de fato acabam favorecendo seu grupo e o seu meio, tem muita gente boa aí que poderia dar uma força pra quem tá chegando agora, como por exemplo é o sertanejo em São Paulo, ou em Minas Gerais, o hip hop também que é um pessoal muito interligado, unido e bem direcionado. E nós participamos de uma capital multicultural, mas mesmo assim é muito bairrismo, as pessoas acabam pensando só no seu, e esquecendo que toda essa militância pode ser algo muito maior que apenas o seu pão de cada dia.
Como isso dificulta a cena independente, e como você acha que ela deveria ser ajudada?
Como isso dificulta, acredito que um pouco de consciência coletiva em relação ao movimento de uma forma geral é a saída para que todos consigam manter o seu trabalho. Uma vez que a gente vive com uma gestão que é um descaso com a cultura. Enfim, você vê aí a falta de investimento em eventos culturais, a galera não tá muito preocupada em ajudar o próximo não.
Dificulta no sentido de que, os espaços que existem são destinados para bandas que geralmente são cover, e os poucos espaços que existem para alguns artistas aqui nessa cidade, não abrem espaço para banda autoral. Ou seja, as bandas acabam entrando no meio underground de forma coletiva para poder pagar pra aparecer. Isso de certa forma é uma existência, mais foge contra o principio geral da arte, onde o artista precisa ser valorizado, e não pagar para ser valorizado.
O que o Rock na Calçada é em si, e o que você deseja que ele se torne?
O Rock na Calçada é um projeto cultural que têm como objetivo principal valorizar o espaço, é vitrine para as bandas autorais e artistas locais que não têm tanta oportunidade para divulgar e difundir sua música. A utilização do espaço público e dar vitrine, em especial o Recife Antigo, também é um fator importante para o projeto, e para quem não se lembra, o Recife Antigo na década de noventa foi um grande ponto de efervescente da cena musical.
Desejo vida longa e próspera ao projeto, e sou muito grato por tudo e a todas as pessoas que acreditam e estendem a mão para que cada dia mais o RNC se consolide como uma nova vitrine.
Agradeço especialmente a uma grande amiga e parceira, que ao longo dessa jornada se mostra como um nome importante e promissor dessa relva de novos produtores. Beatriz Cabral.
Como as outras pessoas, no geral o público, podem ajudar o Rock na Calçada?
Além do carinho e prestígio, recentemente nós implantamos a ideia da bilheteria livre. A contribuição voluntária do público é realmente fundamental para darmos continuidade à nosso projeto. Mas ao mesmo tempo é um desafio conscientizar o público local, pois o recifense não tem o hábito natural da valorização da cultura como meio de transição e transformação social.
Você acha que Recife carece de outros projetos como o seu? Quais outras iniciativas você admira?
Você acha quem um dia esses projetos ganharão o destaque merecido?
O segredo é fazer o dever de casa. A consequência do trabalho e os acertos atrelados as conexões das ideias e do fomento ao mercado e suas troca de experiências, network e profissionalização do setor local, acredito bem, que esse será o grande feito.O reconhecimento vem depois de tudo isso.
Você tem outros projetos, ou gostaria de ter?
Pulsante e liquidificante. Viver é a constante vertente de criar e executar aquilo que se sonha. Minha andada só tá começando.
Que dica você daria pra quem está começando ou quer começar um projeto como o seu?
Persistência. Dois terços de paciência, umas pitadas de fé e disciplina. Se cair se levanta, contar com a sorte de encontrar pessoas que somem e acreditem na tua ideia. Nunca desista, um dia certamente o reconhecimento virá. E o fundamental esteja sempre próximo a pessoas que apoiem o projeto.
E se alguém quiser conhecer um pouco mais o Rock na Calçada, como proceder?
Temos a nossa fanpage no facebook e email, e, quem tiver realmente afim de ver isso mais de perto a nossa porta está aberta. Cheguem os bons, humildes e dispostos.
adorei a entrevista , dou meu total apoio , ajudo como posso , divulgo , no boca a boca , compartilho, nas redes , como amante da música , é o minimo q posso fazer , valeu du , grande cara
ResponderExcluirPode ter certeza que tanto ele, quanto todos os que formam a cena independente pernambucana agradecem sua iniciativa.
ExcluirMuito obrigado e continue com a gente.
Nós do Espaço Cultural Poesis também temos o mesmo intuito . Total Apoio Du Lopes
ResponderExcluirConheçam mais sobre o Espaço
https://www.facebook.com/espacopoesis/?fref=ts
Legal a iniciativa cara! É bom ver projetos assim acontecendo.
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