sábado, 4 de março de 2017

Entrevista com Kira Aderne (Diablo Angel - PE)


Olá apreciadores de lapadas sonoras! Trazemos nessa entrevista uma das bandas mais legais da novíssima geração pernambucana que já vem circulando em festivais, rádios e diversas cidades do Nordeste. Já ouviu falar da Diablo Angel? A banda recifense (que também tem um pé na cidade de Caruaru), lançou ano passado seu ótimo primeiro álbum Fuzzled Mind, com um som quente que nos remete aos anos 90 no melhor estilo power trio com lindas linhas de guitarra, bateria pesada e um vocal com timbre maravilhoso. Nesta entrevista conversei com Kira Aderne, vocalista da banda. Check it out!



Kira, para quem ainda não conhece o seu trabalho, o que você faz?

Na música, eu toco guitarra, canto e faço canções para a banda Diablo Angel.


E como surgiu a Diablo Angel?

A banda começou a acontecer em 2014. No início éramos eu e Tárcio fazendo música no nosso home studio. A gente até pensou em levar adiante a coisa com ajuda de samplers de bateria. Todavia, sentimos a necessidade de uma bateria real. Aí, convidamos o Bruno Kiss, que foi também meu companheiro na primeira banda que tive. Ainda nos tempos que morava em Caruaru. Hoje moro em Recife e o nome da banda foi criação de Tárcio Luna.


A banda, tanto nas músicas quanto nas letras, tem uma pegada bem rock clássico/hard rock. A influência vem dos três? Como é o processo de criação, e que outras influências entram?

A ideia era essa mesmo, levar as canções numa pegada do rock clássico, mas sem querer por a gente ter uma veia muito forte do rock alternativo dos anos 90, essa vertente também pode ser encontrada no som que fazemos. Sou uma grande fã dos Smashing Pumpkins, por exemplo, e Tárcio e Bruno curtem muito o indie rock. No processo de criação a coisa vai acontecendo por níveis. Geralmente eu começo fazendo letra e música sozinha, depois passo para Tárcio colocar as ideias dele e por fim a bateria com Bruno. Mas as vezes Tárcio chega com uma ideia e eu complemento com letra e harmonias... A coisa vai mais ou menos assim.


Dá pra sacar uma vibe mais noventista na música Old Rag. É possível então que algum próximo trabalho possa ter uma pegada mais alternativa?

Já estou trabalhando nas novas canções, pretendemos entrar em estúdio ainda esse ano. E já comecei a fazer músicas com uma pegada mais alternativa talvez que o Fuzzled Mind. Mas ainda é cedo para dizer como vai ficar o trabalho, vamos ver como vai sair a produção desse segundo CD. Mas uma coisa é certa, quero diversificar ainda mais a pegada das músicas e até já estou fazendo músicas em Português e até Espanhol também. Vêm muitas surpresas por aí.


Falando nisso, a Diablo Angel, ao menos no Fuzzled Mind, tem todas as músicas em inglês. Como foi tomada essa decisão, o que você acha das bandas que optam por esse idioma, e como é a recepção das pessoas quanto a isso, já que se trata de uma banda brasileira e do nordeste?

Não tivemos resistência do público pelas letras serem em Inglês, acho que o idioma limita a banda mais no âmbito da participação em eventos com patrocínio do incentivo público. Todavia, acho que essa limitação é algo concentrado até mais em Recife. Lembra do Ariano Suassuna falando que o Chico Science deveria ter mudado o nome para Chico Ciência? Acho que alguns curadores daqui ainda pensam assim hoje em dia. Entretanto, pelos estados que estamos rodando na tour NE da Diablo, a resposta têm sido muito positiva com o Inglês e muitas bandas que conhecemos também usam o Inglês nas letras e conseguiram até gravar seus CDs com incentivo público. Adoramos o Inglês e é a língua perfeita para o Rock, por isso fizemos o Fuzzled Mind todo em Inglês. Mas nesse segundo trabalho queremos diversificar isso e ter idiomas para agradar a todos.


E na sua visão, como anda a cena atualmente, e como a Diablo Angel vem se desenvolvendo nela?

Vejo a cena de forma muito otimista. Há lugares para tocar, muita gente bacana produzindo eventos e aos poucos o público vem chegando. Somos muito gratos pelas oportunidades de produtores e bandas amigas nos deram para mostrar o nosso trabalho ao vivo. Não canso de conhecer pessoas muito talentosas e bandas realmente boas, das quais sou fã. Amo o trabalho do Zeca Viana, por exemplo, e ele foi uma das primeiras pessoas que nos deram oportunidade com o Recife Lo-Fi. A minha crítica vem apenas no cumprimento dos horários dos shows. Não é legal para publico esperar até 3 horas para um evento começar. Isso enfraquece a ida das pessoas aos shows. Por que o que a gente quer é crescer o trabalho de todo mundo não apenas entre os músicos e sim entre o público geral. Em Salvador, por exemplo, tocamos num festival com 5 bandas. Os shows começaram pontualmente e terminaram por volta da 1h30 da manhã. Está na hora de melhorar por aqui essa questão do horário marcado dos eventos e início de fato das apresentações.


Atualmente então, se tem mais oportunidade para uma banda iniciante? Como foi o começo da Diablo Angel?

Com certeza se tem oportunidades, mas essas oportunidades não caem no seu colo. É preciso trabalho e correr atrás e claro, dar sorte de encontrar pessoas que gostem do que você está fazendo. Como a banda tem esse pé no interior do Estado, o nosso começo foi lá com o Capibaribe In Rock. Um dos mais antigos e mais importantes festivais de rock independente de Pernambuco. Mas 'chegar até Recife' com a banda não foi assim tão fácil. O Rock na Calçada junto ao Recife Lo-Fi foi quem primeiro nos deu uma chance. Foi ali que começou tudo. E Du Lopes faz um trabalho fantástico dando oportunidade a bandas até então desconhecidas como a Diablo Angel. Hoje o Jardim Sonante, lá no Museu da Abolição, também faz isso. E o começo da Diablo Angel foi mesmo ali, no Rock na Calçada. Aquele show até hoje tem repercussão de pessoas que estavam lá.



Que dica você daria para quem está começando?

A minha dica seria antes de começar a fazer shows, é importante já ter algo legal para mostrar. Se o seu interesse é desenvolver um trabalho autoral, componha as músicas e ensaie bastante. Daí corra atrás para mostrar o seu trabalho para as pessoas.


Quais outra bandas e projetos você indica?

Indico uma banda que pouca gente conhece, apesar de ser antiga, o Black Rebel Motorcycle Club. Que tive oportunidade de ver ao vivo em Buenos Aires. Outro projeto antigo também, que não se escuta muito por aqui, é o The Kills. Que até já fez show no Coquetel Molotov nos tempos do Teatro da UFPE. Das bandas que conheci na estrada já, curti muito o trabalho da Cartel Strip Club e o Teenage Buzz, ambos de Salvador, Bahia. Aqui de Recife, amo o Zeca Viana e a Kalouv, além dos meninos lá de Surubim, os Aquamans. Há muita coisa legal rolando na cena, vale a pena sair de casa para conhecer muito mais bandas legais que vêm tocando no circuito daqui!


Quais seus desejos para o futuro da Diablo Angel, da cena musical e da humanidade?

Para a Diablo Angel, meu desejo é continuar crescendo e fazendo música. Para a cena musical local, gostaria que mais gente fosse aos shows das bandas autoriais e que a cena possa ser mais sustentável. Com pessoas pagando ingresso para ver as ótimas bandas em atividade no momento. Para a humanidade, gostaria que houvesse mais entendimento da visão de mundo do outro. Isso não é fácil, mas só assim poderíamos "Give Peace a Chance", como bem colocou, há tantas décadas, o John Lennon.


Agora por último, mais não menos importante, qual seu prato favorito?

Qualquer coisa que envolva bananas, mas amo a pernambucaníssima Cartola. 



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