Sergio Gonzales, o GONZA |
1 - Qual a sua primeira memória musical?
Foi nas aulas de música que tinha no maternal. Eu ficava fascinado com as garrafas cheias de água, outras pela metade e quase vazias. Cada uma soava uma nota musical diferente. A primeira impressão sensorial ao ouvir uma sequência de notas com seus tempo exatos causavam-me êxtase .Achava curioso quando a professora tocava violão usando como palheta uma tampa de caneta "bic". Mas se for traçar a primeira obra musical que ouvi foi o disco do Bozo ou as fitas k7 do "Atchim e Espirro".
2 - Quais as suas primeiras influências?
Minhas primeiras influências na construção da minha personalidade "artista" foram os livros de Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas foi o livro que me ensinou a gostar de ler e ao saber que Machado foi gago, epilético, pobre, auto ditada me fez crer que também conseguiria. Meus filmes prediletos são os de Fellini com toda sua temática sonhadora, realista e questionadora. Entre os favoritos filmes dele estão "Amarcord" e "E La Nave Va". Outras influências lúdicas são em desenhos como o do Pica-Pau e os Muppet Babies.
3 - Como foram os primeiros projetos com música?
A música entrou na minha vida definitivamente durante a minha revolta juvenil aos 15 anos que foi quando eu conheci o Nirvana. A minha primeira banda foi formada com colegas de classe do ensino médio na cidade de Sorocaba, interior do estado De São Paulo. Chamava-se "Bullshit". Cantávamos algo como um grunge fora de época com letras em inglês. Co-existimos na mesma época que a banda da pioneira, conhecida hoje como Juliana R. A banda dela se chamava "Whatever" e ela detonava cara! Ela tocava uma Fender Telecaster creme de escudo branco com muita distorção e sua voz aveludada, fazia as próprias canções e gravou ótimas demos.
No Bullshit também fizemos demos entre elas Tapes, Drunk Kids e Melancolic. Dizem que a cidade de Sorocaba é a Manchester brasileira com seu clima frio e centenas de fábricas. A cena tinha várias bandas boas como Volpina e Nedlees, que representavam a cena local saca? Era uma época de revolta e acreditávamos que poderíamos mudar nossos mundos apenas tocando as músicas. Por fim os remanescentes do Bullshit formaram o Ponto Morto com a mesma sonoridade do Bullshit porem com letras em português. Gravamos ao vivo no estúdio 10 canções. Algumas de minha autoria e outras de autoria do baterista. E este foi o fim das minhas bandas.
4 - Quando surgiu o Gonza?
Gonza surgiu quando comecei a aprender teclado por volta de 2006. Nesta época Arnaldo Baptista tinha lançado o disco "Let it bed". Procurei me inspirar nele no primeiro momento. Sempre tive uma mentalidade do faça você mesmo e isso levou ao que se tornou o som do Gonza. O nome é pequeno, fácil de memorizar e também remete a infância, duas sílabas, algo como dada. Considero que Gonza é meu alter ego musical. Com ele e a música libero todas as frustrações em relação a vida, suas desigualdades, individualismo contemporâneo e tragédias amorosas.
5 - Gravar em casa sempre foi algo que fez parte da sua produção?
Sim. No começo foi por não ter o dinheiro necessário para gravação em estúdio. Depois se tornou um hábito. Em casa conseguia compor, instrumentar e criar as letras sem preocupação com tempo. Existe os pros e os contras gravando em casa. Hoje em dia não faço mais shows, toco apenas para os amigos. A grande massa não entende o que é ser artista. Eles acreditam que música é somente sertanejo universitário ou estas outras coisas que fazem sucesso mas sem quase nenhuma profundidade nas letras. Sou basicamente um compositor recluso.
6 - Como você vê o cenário musical nacional hoje em dia? Costuma ouvir produções nacionais?
Cara, escuto muita coisa nacional, antigas e novas. De música clássica de autores como Carlos Gomes até doideiras como Walter Franco na década de setenta. Escuto bandas novas, porém por mais que a internet ajude ao conhecer bandas novas de qualidade, ainda encontro dificuldades em achar algo que me surpreenda.
Com o Recife Lo-fi conheci a cena de recife que me encantou profundamente. E também a música de Zeca Viana com o debut "Seres Invisíveis" me chocou inicialmente. Ele fez o som que eu estava buscando e influenciou o Gonza a partir de então. Doutor Ervilha com todo seu saudosismo pela infância fez o Gonza mudar de rota na música e acreditar cada vez mais que a arte não pode ser em vão, de que temos qualidades apesar de ter várias pessoas que não entendem o que a gente faz.
Conheça mais sobre GONZA:
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