quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Entrevista com Sergio Gonzales idealizador do projeto GONZA (SP)

Hoje publicamos uma entrevista especial com um dos projetos mais interessantes que a coletânea Recife Lo-fi já publicou durante esses cinco anos de atividade: o Gonza! Com tonalidades afetivas que passeiam entre a timidez e a estranheza, escutar as faixas do Gonza é viajar por um universo particular fantástico e inusitado com timbres e temas que revelam cores, memórias o sonoridades muito próprias. Passeando por diversas influências como Arnaldo Baptista (especialmente o LP Disco Voador), Nirvana e músicas infantis, o Gonza já vem criando uma longa discografia com cerca de sete álbuns, todos gravados em casa, entre eles verdadeiras pérolas do Lo-fi nacional como "Canções Espontâneas de um Homem Solitário" (2006) e "Pânico ou Minimalismo" (2009). Esse mês o GONZA vem ao Recife e estará conferindo alguns shows e conhecendo locais de agito na cidade. Com vocês Gonza!

Sergio Gonzales, o GONZA



1 - Qual a sua primeira memória musical?


Foi nas aulas de música que tinha no maternal. Eu ficava fascinado com as garrafas cheias de água, outras pela metade e quase vazias. Cada uma soava uma nota musical diferente. A primeira impressão sensorial ao ouvir uma sequência de notas com seus tempo exatos causavam-me êxtase .Achava curioso quando a professora tocava violão usando como palheta uma tampa de caneta "bic". Mas se for traçar a primeira obra musical que ouvi foi o disco do Bozo ou as fitas k7 do "Atchim e Espirro".

2 - Quais as suas primeiras influências?

Minhas primeiras influências na construção da minha personalidade "artista" foram os livros de Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas foi o livro que me ensinou a gostar de ler e ao saber que Machado foi gago, epilético, pobre, auto ditada me fez crer que também conseguiria. Meus filmes prediletos são os de Fellini com toda sua temática sonhadora, realista e questionadora. Entre os favoritos filmes dele estão "Amarcord" e "E La Nave Va". Outras influências lúdicas são em desenhos como o do Pica-Pau e os Muppet Babies.





3 - Como foram os primeiros projetos com música?

A música entrou na minha vida definitivamente durante a minha revolta juvenil aos 15 anos que foi quando eu conheci o Nirvana. A minha primeira banda foi formada com colegas de classe do ensino médio na cidade de Sorocaba, interior do estado De São Paulo. Chamava-se "Bullshit". Cantávamos algo como um grunge fora de época com letras em inglês. Co-existimos na mesma época que a banda da pioneira, conhecida hoje como Juliana R. A banda dela se chamava "Whatever" e ela detonava cara! Ela tocava uma Fender Telecaster creme de escudo branco com muita distorção e sua voz aveludada, fazia as próprias canções e gravou ótimas demos.

No Bullshit também fizemos demos entre elas Tapes, Drunk Kids e Melancolic. Dizem que a cidade de Sorocaba é a Manchester brasileira com seu clima frio e centenas de fábricas. A cena tinha várias bandas boas como Volpina e Nedlees, que representavam a cena local saca? Era uma época de revolta e acreditávamos que poderíamos mudar nossos mundos apenas tocando as músicas. Por fim os remanescentes do Bullshit formaram o Ponto Morto com a mesma sonoridade do Bullshit porem com letras em português. Gravamos ao vivo no estúdio 10 canções. Algumas de minha autoria e outras de autoria do baterista. E este foi o fim das minhas bandas.

4 - Quando surgiu o Gonza?

Gonza surgiu quando comecei a aprender teclado por volta de 2006. Nesta época Arnaldo Baptista tinha lançado o disco "Let it bed". Procurei me inspirar nele no primeiro momento. Sempre tive uma mentalidade do faça você mesmo e isso levou ao que se tornou o som do Gonza. O nome é pequeno, fácil de memorizar e também remete a infância, duas sílabas, algo como dada. Considero que Gonza é meu alter ego musical. Com ele e a música libero todas as frustrações em relação a vida, suas desigualdades, individualismo contemporâneo e tragédias amorosas.

5 - Gravar em casa sempre foi algo que fez parte da sua produção?

Sim. No começo foi por não ter o dinheiro necessário para gravação em estúdio. Depois se tornou um hábito. Em casa conseguia compor, instrumentar e criar as letras sem preocupação com tempo. Existe os pros e os contras gravando em casa. Hoje em dia não faço mais shows, toco apenas para os amigos. A grande massa não entende o que é ser artista. Eles acreditam que música é somente sertanejo universitário ou estas outras coisas que fazem sucesso mas sem quase nenhuma profundidade nas letras. Sou basicamente um compositor recluso.

6 - Como você vê o cenário musical nacional hoje em dia? Costuma ouvir produções nacionais?

Cara, escuto muita coisa nacional, antigas e novas. De música clássica de autores como Carlos Gomes até doideiras como Walter Franco na década de setenta. Escuto bandas novas, porém por mais que a internet ajude ao conhecer bandas novas de qualidade, ainda encontro dificuldades em achar algo que me surpreenda.

Com o Recife Lo-fi conheci a cena de recife que me encantou profundamente. E também a música de Zeca Viana com o debut "Seres Invisíveis" me chocou inicialmente. Ele fez o som que eu estava buscando e influenciou o Gonza a partir de então. Doutor Ervilha com todo seu saudosismo pela infância fez o Gonza mudar de rota na música e acreditar cada vez mais que a arte não pode ser em vão, de que temos qualidades apesar de ter várias pessoas que não entendem o que a gente faz.






Conheça mais sobre GONZA:

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